sábado, 20 de setembro de 2014

Meditando a Palavra de Deus - 24ª semana do Tempo comum - 20/9/2014

1ª Leitura – 1 Coríntios 15, 35-37.42-49

Ainda uma questão que parece preocupar os Coríntios é a da morte e a situação depois da morte. A resposta cristã é a da ressurreição. O Apóstolo tenta responder a possíveis dificuldades que se oferecem a pessoas que vinham de um ambiente pagão e materialista. E recorre, primeiro, à comparação da semente lançada à terra: embora leve em si, o gérmen da planta futura, em nada a semente se parece ainda com ela; depois, ao paralelo entre Adão e Cristo: o primeiro, Adão, ser vivo, mas mortal, porque terreno; o segundo, Cristo, fonte de vida, porque celeste, vivificado pelo Espírito de Deus. Mortais em Adão, os homens tornam-se celestes e imortais em Cristo ressuscitado.

Ao concluir o ensinamento sobre a ressurreição de Jesus e sobre a nossa ressurreição, Paulo faz uma pergunta: «como ressuscitam os mortos? Com que corpo regressam?» (v.35). Nota-se a tristeza do Apóstolo, motivada pela mentalidade materialista em que se tinham deixado envolver alguns cristãos de Corinto, e que os levava a dissociar o corpo do espírito. Não tinham em conta a ressurreição de Cristo, nem dela tiravam as devidas consequências. Isto era insuportável para Paulo, para quem o mistério pascal era uma verdade irrenunciável

A ressurreição inaugura uma novidade absoluta na vida de Cristo e dos cristãos: a passagem de um corpo animal a um corpo espiritual estava prevista no desígnio salvífico de Deus. Não podemos, pois, refletir sobre o corpo espiritual à maneira como, a partir das nossas experiências, pensamos o nosso corpo animal. A relação entre o primeiro homem, Adão e Cristo, último Adão, ilumina-nos: a novidade de Cristo não consiste em ter a vida, mas em dar a vida nova a todos. Será um dom integral, que envolverá todo o homem – corpo, alma e espírito – numa experiência d vida nova e eterna. Depois de termos sido irmãos do primeiro homem, Adão, tendo levado conosco a imagem do homem terreno, também seremos irmãos do último Adão, Cristo, levando conosco a imagem do homem celeste.

Evangelho - Lucas 8, 4-15


Depois da parábola da semente lançada à terra, para explicar aos discípulos o mistério da palavra de Deus e dos frutos que ela produz, Jesus explica porque é que Ele usa este método para desvendar os mistérios do reino de Deus, e, por fim, explica a própria parábola da semente. Esta parábola, por um lado, revela a força divina da palavra de Deus, e, por outro, convida os que a escutam a oferecerem à sementeira dela a terra de um bom coração.

O semeador apresentado nesta parábola não é um agricultor incompetente e com pouca experiência, mas um grande otimista que espera que também as pedras se transformem em terra produtiva e que da beirada árida da estrada brotem espigas cheias e maduras. Em outras palavras: Jesus anuncia sua palavra a todos, maus e bons, “porque Deus, nosso salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).

Deus não quer pré-requisitos de nenhuma pessoa. Também se deseja ser aceito, Jesus não escolhe o terreno seguindo critérios de oportunidade: dirige-se a todos aqueles que chegam até ele de todas as partes.

Ele veio salvador os pecadores (5, 32), curar os doentes (5, 31). A ação dele se dirige, sem problema algum, diretamente aos inimigos mais obstinados, aos pecadores mais endurecidos. Não olhou para os bons, para os santos e para os escolhidos, esquecendo os outros (como fazemos, infelizmente, nós), mas dirigiu o olhar e a atenção a todos.

As áreas de terreno não produtivo, sobre o qual lançou igualmente a semente, deixam entender sua boa vontade, sua confiança e seu interesse, sem exceção alguma. A ação e a palavra de Deus são destinadas a todos, maus e bons.

O semeador Jesus é confiante e animado por uma grande coragem. Os cristãos, que são os trabalhadores da evangelização, devem continuar a ter confiança. A ação deles, no final, será premiada. Deus não se cansa de espera a conversão do homem: Jesus agiu da mesma maneira e devem agir seus enviados. Após tantos insucessos pode-se chegar a resultados superiores a toda expectativa.

A lei da evangelização, como indica este texto, é desanimadora e ao mesmo tempo consoladora. O sucesso passa através do insucesso. A evangelização avança lentamente; só os missionários corajosos, capazes de acreditar e esperam, verão os resultados de suas canseiras.

A parábola do semeador é a parábola do otimismo de Jesus na eficácia do anúncio da Palavra: deve ser o fundamento do otimismo e da esperança do cristão no anúncio alegre de Jesus, palavra de salvação.

“A vós foi dado conhecer os mistérios do reino de Deus” (v. 10). Conhecer os mistérios do reino de Deus significa vivê-los. No Novo Testamento a palavra mistério não indica uma verdade guardada a sete chaves, mas o plano de salvação, escondido nos séculos e revelado em Jesus. Neste contexto de Lucas, “conhecer os mistério do reino de Deus”, equivale a alcançar a salvação em Jesus.

“Os outros” (v. 10) ou “os de fora” (Mc 4, 11) são os adversários de Jesus e dos apóstolos. Os dois grupos que aparecem no evangelho são: de um lado os discípulos (os apóstolos e aqueles que ouvem) e do outro os escribas, os fariseus e aqueles que os seguem. Estes últimos se manifestaram contra o discurso simples, em parábolas, adotado por Cristo.

As motivações desta escolha de Jesus, de falar em parábolas, são de caráter prático, pastoral: “Com muitas parábolas deste tipo anunciava-lhes a palavra, de acordo com aquilo que podiam entender” (Mc 4, 33).

Para que a palavra de Deus dê frutos na pessoa e alcance seu objetivo deve entrar e lançar raízes nele. Deve estabelecer com o homem uma relação de vida, isto é deve lhe comunicar a vida nova, a vida de Deus. A fé é a palavra de Deus ouvida. O crente é a pessoa que acolhe Deus em sua vida.

Como a palavra de Deus é semente boa, o problema real é a pessoa. “As sementes caídas à beira do caminho” (v. 11) são aqueles que vivem na superficialidade, na banalidade, no óbvio, no bom senso, que é bem diferente de ser neutro em reação a Deus.

“As sementes entre as pedras” (v. 13) são os egoístas que não abrem o coração nem a Deus nem ao próximo.

“A semente caída entre os espinhos” (v. 14) são aqueles que abrem as portas aos aliados do demônio ao próprio coração. O primeiro aliado são as preocupações, afãs, anseios, inquietações, também por coisas boas. O afã e o medo são o sinal da falta de fé. O segundo aliado é a riqueza. No evangelho de Lucas a pobreza é o rosto concreto da fé e da caridade, porque leva a confiar em Deus e a partilhar com os irmãos. A confiança no deus-dinheiro (que significa: aquilo que se possui) substitui a confiança em Deus (cfr. Lc, 11,41; 12,33-34; 14,33; 16,13; At 2,44; 4,32.34; etc.). O terceiro aliado são os prazeres da vida (cfr. Lc 12,45; 14,15ss; ecc.) dos quais é impossível fazer uma lista. Estes são os pontos fracos da pessoa que se tornam facilmente aliados do tentador em pagar a palavra de Deus.

Se a palavra de Deus quer levar frutos deve ser anunciada, ouvida, aceita no coração e acreditada. Deve ser aceita e agarrada com força, apesar das tentações> “A semente eu caiu em terra boa são aqueles que... dão fruto com sua perseverança” (v. 15), isto é com constância e firmeza.

A palavra de Deus transforma a pessoa, mas ela precisa da colaboração humana. Santo Agostinho escreveu: “Quem te criou sem tua ajuda, não te salvará sem tua colaboração”.

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