1ª Leitura – 1 Coríntios 15, 35-37.42-49
Ainda uma questão que parece preocupar os Coríntios é a da morte e a
situação depois da morte. A resposta cristã é a da ressurreição. O
Apóstolo tenta responder a possíveis dificuldades que se oferecem a
pessoas que vinham de um ambiente pagão e materialista. E recorre,
primeiro, à comparação da semente
lançada à terra: embora leve em si, o gérmen da planta futura, em nada a
semente se parece ainda com ela; depois, ao paralelo entre Adão e
Cristo: o primeiro, Adão, ser vivo, mas mortal, porque terreno; o
segundo, Cristo, fonte de vida, porque celeste, vivificado pelo Espírito
de Deus. Mortais em Adão, os homens tornam-se celestes e imortais em
Cristo ressuscitado.
Ao concluir o ensinamento sobre a
ressurreição de Jesus e sobre a nossa ressurreição, Paulo faz uma
pergunta: «como ressuscitam os mortos? Com que corpo regressam?» (v.35).
Nota-se a tristeza do Apóstolo, motivada pela mentalidade materialista
em que se tinham deixado envolver alguns cristãos de Corinto, e que os
levava a dissociar o corpo do espírito. Não tinham em conta a
ressurreição de Cristo, nem dela tiravam as devidas consequências. Isto
era insuportável para Paulo, para quem o mistério pascal era uma verdade
irrenunciável
A ressurreição inaugura uma novidade absoluta na
vida de Cristo e dos cristãos: a passagem de um corpo animal a um corpo
espiritual estava prevista no desígnio salvífico de Deus. Não podemos,
pois, refletir sobre o corpo espiritual à maneira como, a partir das
nossas experiências, pensamos o nosso corpo animal. A relação entre o
primeiro homem, Adão e Cristo, último Adão, ilumina-nos: a novidade de
Cristo não consiste em ter a vida, mas em dar a vida nova a todos. Será
um dom integral, que envolverá todo o homem – corpo, alma e espírito –
numa experiência d vida nova e eterna. Depois de termos sido irmãos do
primeiro homem, Adão, tendo levado conosco a imagem do homem terreno,
também seremos irmãos do último Adão, Cristo, levando conosco a imagem
do homem celeste.
Evangelho - Lucas 8, 4-15
Depois da
parábola da semente lançada à terra, para explicar aos discípulos o
mistério da palavra de Deus e dos frutos que ela produz, Jesus explica
porque é que Ele usa este método para desvendar os mistérios do reino de
Deus, e, por fim, explica a própria parábola da semente. Esta parábola,
por um lado, revela a força divina da palavra de Deus, e, por outro,
convida os que a escutam a oferecerem à sementeira dela a terra de um
bom coração.
O semeador apresentado nesta parábola não é um
agricultor incompetente e com pouca experiência, mas um grande otimista
que espera que também as pedras se transformem em terra produtiva e que
da beirada árida da estrada brotem espigas cheias e maduras. Em outras
palavras: Jesus anuncia sua palavra a todos, maus e bons, “porque Deus,
nosso salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).
Deus não quer
pré-requisitos de nenhuma pessoa. Também se deseja ser aceito, Jesus não
escolhe o terreno seguindo critérios de oportunidade: dirige-se a todos
aqueles que chegam até ele de todas as partes.
Ele veio
salvador os pecadores (5, 32), curar os doentes (5, 31). A ação dele se
dirige, sem problema algum, diretamente aos inimigos mais obstinados,
aos pecadores mais endurecidos. Não olhou para os bons, para os santos e
para os escolhidos, esquecendo os outros (como fazemos, infelizmente,
nós), mas dirigiu o olhar e a atenção a todos.
As áreas de
terreno não produtivo, sobre o qual lançou igualmente a semente, deixam
entender sua boa vontade, sua confiança e seu interesse, sem exceção
alguma. A ação e a palavra de Deus são destinadas a todos, maus e bons.
O semeador Jesus é confiante e animado por uma grande coragem. Os
cristãos, que são os trabalhadores da evangelização, devem continuar a
ter confiança. A ação deles, no final, será premiada. Deus não se cansa
de espera a conversão do homem: Jesus agiu da mesma maneira e devem agir
seus enviados. Após tantos insucessos pode-se chegar a resultados
superiores a toda expectativa.
A lei da evangelização, como
indica este texto, é desanimadora e ao mesmo tempo consoladora. O
sucesso passa através do insucesso. A evangelização avança lentamente;
só os missionários corajosos, capazes de acreditar e esperam, verão os
resultados de suas canseiras.
A parábola do semeador é a
parábola do otimismo de Jesus na eficácia do anúncio da Palavra: deve
ser o fundamento do otimismo e da esperança do cristão no anúncio alegre
de Jesus, palavra de salvação.
“A vós foi dado conhecer os
mistérios do reino de Deus” (v. 10). Conhecer os mistérios do reino de
Deus significa vivê-los. No Novo Testamento a palavra mistério não
indica uma verdade guardada a sete chaves, mas o plano de salvação,
escondido nos séculos e revelado em Jesus. Neste contexto de Lucas,
“conhecer os mistério do reino de Deus”, equivale a alcançar a salvação
em Jesus.
“Os outros” (v. 10) ou “os de fora” (Mc 4, 11) são os
adversários de Jesus e dos apóstolos. Os dois grupos que aparecem no
evangelho são: de um lado os discípulos (os apóstolos e aqueles que
ouvem) e do outro os escribas, os fariseus e aqueles que os seguem.
Estes últimos se manifestaram contra o discurso simples, em parábolas,
adotado por Cristo.
As motivações desta escolha de Jesus, de
falar em parábolas, são de caráter prático, pastoral: “Com muitas
parábolas deste tipo anunciava-lhes a palavra, de acordo com aquilo que
podiam entender” (Mc 4, 33).
Para que a palavra de Deus dê
frutos na pessoa e alcance seu objetivo deve entrar e lançar raízes
nele. Deve estabelecer com o homem uma relação de vida, isto é deve lhe
comunicar a vida nova, a vida de Deus. A fé é a palavra de Deus ouvida. O
crente é a pessoa que acolhe Deus em sua vida.
Como a palavra
de Deus é semente boa, o problema real é a pessoa. “As sementes caídas à
beira do caminho” (v. 11) são aqueles que vivem na superficialidade, na
banalidade, no óbvio, no bom senso, que é bem diferente de ser neutro
em reação a Deus.
“As sementes entre as pedras” (v. 13) são os egoístas que não abrem o coração nem a Deus nem ao próximo.
“A semente caída entre os espinhos” (v. 14) são aqueles que abrem as
portas aos aliados do demônio ao próprio coração. O primeiro aliado são
as preocupações, afãs, anseios, inquietações, também por coisas boas. O
afã e o medo são o sinal da falta de fé. O segundo aliado é a riqueza.
No evangelho de Lucas a pobreza é o rosto concreto da fé e da caridade,
porque leva a confiar em Deus e a partilhar com os irmãos. A confiança
no deus-dinheiro (que significa: aquilo que se possui) substitui a
confiança em Deus (cfr. Lc, 11,41; 12,33-34; 14,33; 16,13; At 2,44;
4,32.34; etc.). O terceiro aliado são os prazeres da vida (cfr. Lc
12,45; 14,15ss; ecc.) dos quais é impossível fazer uma lista. Estes são
os pontos fracos da pessoa que se tornam facilmente aliados do tentador
em pagar a palavra de Deus.
Se a palavra de Deus quer levar
frutos deve ser anunciada, ouvida, aceita no coração e acreditada. Deve
ser aceita e agarrada com força, apesar das tentações> “A semente eu
caiu em terra boa são aqueles que... dão fruto com sua perseverança” (v.
15), isto é com constância e firmeza.
A palavra de Deus
transforma a pessoa, mas ela precisa da colaboração humana. Santo
Agostinho escreveu: “Quem te criou sem tua ajuda, não te salvará sem tua
colaboração”.
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