Fé fácil
Crer em Deus custou caro para
Moisés, para Jacó, para Jeremias, para Paulo, para Pedro e os demais
apóstolos, para Estevão, Agostinho, Gregório Magno, Maomé e para
milhares de pregadores da sua existência. Todos eles sofreram
profundamente enquanto buscavam um sentido para sua fé me Deus.
É
do místico e papa Gregório Magno (540-604) a afirmação de que Deus é
uma experiência angustiante e que é difícil alcançá-lo, porque ele
permanece oculto numa escuridão impenetrável. Nada sabemos sobre Ele. Procurá-lo com sinceridade dói.
Moisés, Jeremias e Paulo tiveram vislumbres. Milhares morreram por
afirmarem sua existência. A leitura da vida dos patriarcas e dos grandes
santos e místicos mostra que ninguém chega a Deus sem atravessar a
barreira do seu ego e a ciladas dos sentidos. Ambos nos puxam para trás.
Libertar-se do egoísmo, do conforto e do orgulho dói. Sai-se esfolado
da refrega, descrita simbolicamente na luta hercúlea de toda uma noite
que Jacó travou com o anjo do Senhor. (Gn 32,35)
Fé fácil teve
Salomão que mentiu para sua mãe e começou por matar seu irmão Adonias
para não perder o trono. ( 1 Rs 2,24-28) Matou também quem servira seu
pai. Construiu para Deus um templo majestoso e,logo depois,um ainda
maior e mais rico palácio para si mesmo. Disse ter visto Deus duas
vezes. Foi riquíssimo e teve tudo o que queria, começando pelas suas 300
mulheres e 700 concubinas que, segundo 1 Rs 11,3 lhe perverteram o
coração. O rei que viu Deus duas vezes terminou por adorar Astarote
deusa dos sidônios.
Com enorme aparato e com eficiente marketing
Salomão se fez passar por vidente, todo poderoso, infalível, sábio e
justo. A leitura de sua vida mostra um crente que foi deixando de ser
bom. A fama, a riqueza e sua falsa noção de Deus o levaram a uma vida de
luxo, de ira, de manipulação da fé e das pessoas ao seu redor. Morreu
adorando Quemós, Moloque e outros deuses.
Ao que tudo indica não
sofreu pela fé. Mudava de Deus a seu bel prazer. Este, o grande perigo
da fé fácil e confortável que traz riquezas, fama e sucesso ao pregador.
Ele nunca sabe se terminará seus dias no colo do verdadeiro Deus ou do
Deus confortável e recompensador que ele criou.
Em tempos de
igrejas de resultado e de pregadores que enriquecem a olhos vistos,
convém lembrar homens como Gideão, Salomão, Jeremias, Paulo, e Simão o
Mago. São histórias sobre quem serviu à verdade e quem a manipulou por
riquezas e poderes.
Pe. Zezinho, scj
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