Transparência, eis o problema. A costumado a varrer tudo para debaixo do tapete, a dar um jeitinho, a protelar recurso após recurso, a não prestar contas, a reincidir e outra vez a não explicar, o Brasil tornou-se um país mal explicado.
Caixa dois de partidos, dinheiro na cueca e nas meias, dinheiro no jatinho da fé, dinheiro dos templos, cocaína apreendida que sumiu da delegacia, salário dos congressistas, desvio de verbas, obras não concluídas, orçamento estourado, dinheiro de eleição, imóveis não declarados, preço exorbitante de show, prédio que ruiu, avião que bateu e caiu... para tudo se "abre uma sindicância para apurar responsabilidades". Não se apura e não se pune. A culpa recai sobre o piloto e o motorista... Os cidadãos até já sabem de cor e salteado a resposta que será dada para o mais novo escândalo: abrirão uma sindicância e o congresso abrirá uma comissão de inquérito...
Somos um país mal explicado. A ideia vigente é a de que o povo esquecerá o atual escândalo com a noticia de dez outros piores. E é o que acontece. O Brasil é um país de gente boa, incapaz de controlar a sua elite e os políticos em quem votou, nação em ascensão que, contudo, navega de escândalo em escândalo financeiro. Entre nós a coisa publica é de quem for mais esperto e pegar a sua parte. Não se deposita no Brasil, retira-se do Brasil. Boa parte do nosso dinheiro, desde os tempos do garimpo, da monarquia e do império, como a soja e a cana de hoje desperdiçados à margem das rodovias, não chega ao seu destino. Alguém retira os seus 5 a 20%.
Vai mudar? Olhemos para nós mesmos. Quem exige nota fiscal? A declaração de renda, o balanço das firmas, das igrejas, das ongs e dos partidos incluem tudo? Presta-se contas de quanto e de quê? E o dinheiro arrecadado, é aplicado e explicado, seguido e vigiado, ou parte dele escapa pelo ralo da burocracite e da burocracia? Que parte? Nas mãos de quem? O balanço contábil é transparente ou há maquiagem? Quem foi punido quem nunca é?
Perguntas incômodas da qual pouquíssimos brasileiros escapam! O Estado não confia no cidadão e o cidadão não confia no Estado, por conta do excesso de funcionários e de cargos de apaniguados políticos. De tantos apaniguados o pão do povo já vem aguado. Na Rússia de décadas atrás, Gorbatchev tentou a glasnost, política do espelho e da transparência. Perdeu o cargo. A Rússia, antes comunista, hoje sistema híbrido mais capitalista do que socialista, segue, como o Brasil, resistindo às reformas que contam: a política, a tributária, à do judiciário e a dos partidos. Não se mexe com aquelas cadeiras!
Todo mundo sabe disso, os jornais o denunciam todos os dias e a resposta é a tentativa de amordaçar a imprensa. O berço esplêndido será um dia explicado a contento? Para vencer esta contra-cultura, teríamos que criar a cultura da qual falava Platão no seu "De Republica", livro V: "O meu e o não meu". Mas como criá-la, se as igrejas, os pais, a escola e os mestres perderam a autoridade?
Pe. Zezinho, scj
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