Deus distribui seus dons conforme seus desígnios para a salvação dos homens
Para alcançar a vida eterna devemos buscar uma vida santa, de acordo
com os mandamentos da lei de Deus e da Santa Mãe Igreja. Nisso reside a
verdadeira sabedoria, que não é um dom que brota de baixo para cima, e
que não basta o nosso esforço próprio. É um dom que vem do alto, que
vem da graça de Deus e flui por meio do Espírito Santo que conduz,
inspira e assiste a Igreja de Deus sobre a terra.
O Espírito
Santo dá a certos fiéis dons de sabedoria, de fé e de discernimento em
vista do bem comum, especialmente para a direção espiritual dos fiéis.
Os santos destacaram muito o valor desta direção. São João da Cruz,
doutor da Igreja, por exemplo, falava da importância da direção
espiritual: “Por isso, se a alma deseja avançar na perfeição, deve
considerar bem em que mãos se entrega, pois, conforme o mestre, assim
será o discípulo; conforme o pai, assim será o filho”. E ainda: “O
diretor deve não somente ser sábio e prudente, mas também experimentado.
Se o guia espiritual não tem a experiência da vida espiritual, é
incapaz de nela conduzir as almas que Deus chama, nem sequer as
compreenderá” (Chama, 3). Santa Teresa dizia que o diretor espiritual
deve ser sábio, douto e santo.
O dom da sabedoria nos concede o
sentido adequado para sabermos apreciar as coisas de Deus; dando ao bem e
à virtude o seu verdadeiro valor, e encarando os bens do mundo como
degraus para a santidade não como fins em si. Por exemplo, a pessoa que
gasta o seu fim de semana para participar de um retiro espiritual, foi
conduzido pelo dom da sabedoria, mesmo que não o saiba.
Na ordem
natural do conhecimento, a inteligência humana procura fazer uma síntese
das suas concepções, de modo a ter uma visão harmoniosa. A mente humana
procura atingir os primeiros princípios e as causas supremas de toda a
realidade que ela conhece.
A mesma busca harmoniosa ocorre também
na ordem sobrenatural. O dom da ciência e do entendimento nos dão uma
penetração profunda no significado de cada criatura e de cada verdade
revelada respectivamente; oferecem também uma certa síntese dos objetos
contemplados, relacionando-os com Deus. Todavia, o dom que, por
excelência, efetua essa síntese harmoniosa e unitária, é o da sabedoria.
Ela abrange todos os conhecimentos do cristão e os põe diretamente sob a
luz de Deus, mostrando a grandeza do plano do Criador e o Seu mistério
insondável.
O dom da sabedoria não realiza a síntese dos
conhecimentos da fé em termos meramente intelectuais. Ele oferece um
conhecimento agradável da verdade, porque é fruto da experiência do
próprio Deus feita pelo cristão ou da afinidade que o cristão adquire
com o Senhor pelo fato de amar a Deus.
Uma comparação ajuda a
compreender isso: para conhecer o sabor de uma laranja, posso consultar,
intelectual e cientificamente, os tratados de Botânica; terei assim uma
noção aproximada do que seja esse sabor. Mas a melhor maneira para
conhecer o gosto da laranja será chupá-la. Os resultados do estudo
meramente intelectual são frios e abstratos, ao passo que as vantagens
da experiência são concretas.
Os dons da ciência e do
entendimento fazem-nos conhecer principalmente pelo amor e afinidade com
Deus. É o dom da sabedoria que resulta dessa familiaridade com o
Senhor. Ele acontece na medida da íntima união que o cristão tenha com o
Senhor Deus. É fruto daquilo que Jesus disse: “Permanecei em mim e eu
permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não
permanecer na videira. Assim também vós não podeis tampouco dar fruto,
se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem
permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada
podeis fazer ” (João 15,4-5).
Dizia um grande místico que “o dom
da sabedoria faz-nos ver com os olhos do Bem-amado; a partir da excelsa
atalaia que é o próprio Deus, contemplamos todas as coisas quando usamos
o dom da sabedoria”.
Essas verdades nos fazem entender quanto
nesta vida é importante o amor de Deus. É este que propicia o
conhecimento mais perspicaz e saboroso do mesmo Deus. Os teólogos nos
ensinam que veremos Deus face a face por toda a eternidade na proporção
do amor com que o tivermos amado nesta vida. O grau do nosso amor, na
hora da morte, será o grau da nossa visão de Deus na vida eterna ou por
todo o sempre. É por isso que se diz que o amor é o vínculo da perfeição
(cf. Cl 3, 14). “No ocaso de sua vida, cada um de nós será julgado na
base do amor”, diz São João da Cruz.
Mas isso não quer dizer que
se possa menosprezar o estudo, pois, se o Criador nos deu a
inteligência, foi para que a apliquemos à verdade por excelência, que é
Deus. João Paulo II disse que “a fé e a razão são as duas asas com as
quais o espírito humano alça voo para contemplar a verdade” (Fé e razão,
n. 1).
Falando do dom da sabedoria, em 14/04/2014, o Papa
Francisco disse que “a sabedoria é uma graça que nos permite ver as
coisas com os olhos de Deus, a sentir como Deus e a falar com suas
palavras; nós temos dentro de nós, no nosso coração, o Espírito Santo;
podemos escutá-Lo. Se nós escutamos o Espírito Santo, Ele nos ensina
esta via da sabedoria, presenteia-nos com a sabedoria que é ver com os
olhos de Deus, ouvir com os ouvidos d’Ele, amar com o coração do senhor,
julgar as coisas com o juízo divino. Esta é a sabedoria que nos dá o
Espírito Santo e todos nós podemos tê-la. Somente devemos pedi-la ao
Espírito Santo”.
“Depois, no matrimônio, por exemplo, os dois
esposos – o esposo e a esposa – brigam e depois não se olham ou se o
fazem é com a cara amarrada: isto é sabedoria de Deus? Não! Em vez
disso, se diz: ‘Bem, a tempestade passou, façamos as pazes’, e recomeçam
a seguir adiante em paz: isto é sabedoria? [o povo: Sim!] Sim, este é o
dom da sabedoria. Que esteja casa, que esteja com as crianças, que
esteja com todos nós!”.
O Papa disse deste modo que não é
sabedoria quando “nós vemos as coisas segundo o nosso prazer ou segundo a
situação do nosso coração, com amor ou com ódio, com inveja… Não, estes
não são os olhos de Deus”. “E obviamente isso deriva da intimidade com
Deus, da relação íntima que nós temos com Deus, da relação de filhos com
o Pai. E o Espírito Santo, quando nós temos esta relação, nos dá o dom
da sabedoria. Quando estamos em comunhão com o Senhor, é como se o
Espírito Santo transfigurasse o nosso coração e o fizesse perceber todo o
seu calor e a sua predileção.
O Papa Francisco ressaltou que “o
coração do homem sábio neste sentido tem o gosto e o sabor de Deus. E
quão importante é que nas nossas comunidades haja cristãos assim! Tudo
neles fala de Deus e se torna um sinal belo e vivo da sua presença e do
seu amor. E isto é uma coisa que não podemos improvisar, que não podemos
procurar por nós mesmos: é um dom que o Senhor faz àqueles que se
tornam dóceis ao Espírito Santo”.
Santo Agostinho disse que: “A
sabedoria é a medida do homem. Uma medida pela qual o homem se mantém em
equilíbrio. Sem tentar o impossível nem contentar-se com o
insuficiente”. “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência”.
Santo Afonso de Ligório disse que: “A verdadeira sabedoria é a sabedoria
dos santos: saber amar a Jesus Cristo”. São João da Cruz disse que:
“Adquire-se a sabedoria pelo amor, do silêncio e da mortificação; grande
sabedoria é saber calar e não se inserir em ditos ou fatos e na vida
alheia”.
Felipe Aquino
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