Evangelho da Reconciliação
No dia 23 de maio de 2013, o Papa Francisco escreveu no Twitter:
Tenho levado o Evangelho da reconciliação e do amor aos ambientes onde vivo e trabalho.
Era uma sexta-feira do tempo pascal. O
Papa vive intensamente a mística de ligar a fé com a vida, a liturgia
com o dia a dia, a Missa com a missão. Aos poucos, ficaria muito claro
que a Celebração Eucarística diária, logo pela manhã, é o momento alto
do seu dia. Neste dia, por exemplo, certamente o Evangelho de João
15,12-17 o inspirou: “Amai-vos uns aos outros”.
O Evangelho lido e meditado diariamente
dá o tom para todos os seus afazeres, decisões e até mesmo orienta suas
palavras. A breve homilia feita diariamente na Casa Santa Marta foi
ganhando a atenção de todo o mundo. Até mesmo a imprensa secular começou
a repercutir aquelas breves frases que têm o poder de destruir muros e
construir pontes.
O Papa é também chamado de Pontífice, ou
seja, alguém que tem a missão de construir pontes entre as pessoas, as
culturas, as religiões, os cristãos e até mesmo da humanidade com Deus.
Este é o sentido da mensagem que ele publicou neste dia. Devemos ter nos
lábios e nas atitudes uma boa notícia de reconciliação. Ele tem moral
para fazer esta proposta. Ao fim de 2014, o Papa ganharia as manchetes
como protagonistas da improvável reconciliação entre Estados Unidos e
Cuba. Tentou também reconciliar o Ocidente com o Oriente, judeus e
palestinos, idosos e jovens, homens e mulheres, leigos e clérigos. Seu
jeito de viver o equilíbrio entre o vigor e a ternura o torna um profeta
da paz.
Paz na Bíblia é mais do que ausência de conflitos. O shalom
que Jesus tanto pregou significa viver a harmonia e a reconciliação com
Deus, com a natureza, com os outros e consigo mesmo. É ser uma pessoa
íntegra e integrada. Mas não é isso que vemos em nosso fragmentado mundo
moderno. Reivindicamos as liberdades individuais e acabamos escravos de
um egoísmo narcisista que tem como efeito colateral uma tremenda
solidão. Outro efeito é a falta de cuidado com o jardim que Deus plantou
desde as nossas origens. A natureza tem sido estuprada violentamente
por queimadas irresponsáveis. Paradoxalmente, amamos de modo saturado
nossos gatos e cães, mas nos esquecemos da vida em extinção. É comum
levar o cãozinho no petshop e ver crianças pelas ruas, de pé no chão.
Aqueles trinta reais alimentariam uma criança pobre por três dias.
Toda esta realidade está clara diante dos
olhos da diplomacia do Papa Francisco. Ele transmite uma severa paz.
Severa, porque não cala a denúncia de tudo o que impede a reconciliação.
Ele sabe que o apego aos bens produz injustiça e exclusão. Pior que
isso é o apego ao cargo ou ao prestígio. Suas palavras são duras quando
se dirige a líderes religiosos que fazem questão de ser cultuados. Chama
isso de doença. E é mesmo. O poder pode corromper e tornar as pessoas
medíocres e incapazes de exercer sua missão de humildade e serviço.
Podemos seguir o exemplo de Francisco e
construir pontes de reconciliação com nossos familiares e amigos. Alguns
podem estar do outro lado do muro da política, da cultura ou da
religião. Por que não dar o primeiro passo?
Padre João Carlos Almeida, scj
Teólogo e educador
Teólogo e educador